Projeto: Amizade e resolução de conflitos

O Projeto altruísmo desenrola-se no âmbito do 3º ano de escolaridade sob a direção do psicólogo educacional Mauro Pimenta e colaboração das professoras titulares.

Nesta fase de desenvolvimento (3º ano de escolaridade), as crianças já são capazes de falar sobre a amizade (Selman, 1980), assim como descrevem algumas situações de conflito que experimentaram ou observaram. Quando há um episódio onde duas crianças discordam, verificando-se a ocorrência de alguma tensão, não é difícil observar a tomada de partido por parte das outras crianças (Coie & Dodge, 1998).

O jogo simbólico permite a troca de significados e a negociação de papéis no jogo social (Schaffer, 1996). Os grupos têm um papel importante na vida das crianças, na partilha de atividades. Verifica-se, ainda, uma proximidade entre o desenvolvimento cognitivo, a descentração social e o desenvolvimento moral, que tende a ser cada vez mais autónomo (Kohlberg, 1977). Abordámos, ainda, o desenvolvimento da criança tendo em conta a construção de “intenção” (Piaget, 1932; Dodge, 1986) e a progressão da organização/controlo emocional (Lemerise & Arsenio, 2000).

Instrumento

No nosso projeto utilizámos 11 cartões, correspondentes a 11 narrativas diferentes. A cada cartão corresponde uma imagem, que procura ilustrar a narrativa em causa. São ainda colocadas algumas questões, com o intuito de ajudar as crianças a construírem uma solução para a narrativa proposta.

Procedimento

A primeira sessão passou pela apresentação do projeto ao grupo. Nesta fase inicial é importante abordar o tema de um modo claro, procurando esclarecer a importância do altruísmo no desenvolvimento e na construção das relações entre pares.

Esta apresentação é pautada por diversos exemplos, que procuram ilustrar os valores que se pretendem passar, até porque o “Projeto Amizade” encontra-se ligado de modo estreito às ideias prioritárias que norteiam os princípios do Externato João XXIII.

Na segunda sessão apresentámos as diferentes narrativas. Nesta sessão seriam constituídos os grupos de trabalho, uma vez que a discussão construtiva entre pares também seria parte um dos nossos objetivos. Tal não se verificou devido aos constrangimentos impostos pela Covid-19, que além da imposição do distanciamento social possível, inviabiliza a partilha de material. O objetivo é que cada criança interprete o contexto negativo associado a cada cartão (narrativa), procurando descentrar-se de uma visão única, de modo a conseguir ponderar a perspetiva do agressor, da vítima e do observador. Pede-se, ainda, ao aluno que encontre uma possível solução para a situação exposta.

Nas restantes 2/3 sessões decorreram as apresentações dos trabalhos.

Outra intenção associada ao projeto é a exposição oral, onde cada criança tem espaço para apresentar o seu trabalho e dar a sua opinião.

Após leitura da narrativa, eram apresentadas respostas que ajudavam a explicar o que tinha ocorrido tendo em conta as diferentes perspetivas das personagens envolvidas. No final eram oferecidas soluções para a problemática em causa, assim como era dada a palavra aos restantes elementos da turma que quisessem fazer algum comentário. Assim, abria-se um debate, onde a turma podia pronunciar-se sobre a temática em causa, apresentando diferentes possibilidades, ou partilhando alguma experiência pessoal relacionada com a narrativa. Houve bastante motivação durante as sessões, registando-se uma participação massiva. As sessões, em média, tiveram a duração de 45 minutos.

Por fim foi realizada uma sessão via zoom direcionada aos pais e restante comunidade escolar com a intenção de dar um feedback do trabalho realizado. Esta sessão foi enquadrada no XI Ciclo de Conferências: “Escola de Pais”.

Pelas razões referidas, não pudemos fazer a habitual exposição na Sala de Seminário com os trabalhos dos alunos.

Resultados/ Conclusão

Como é facilmente entendível, a intenção do nosso projeto não se esgota na redução do número quantificável de conflitos. A qualidade das interações, assim como a transmissão de valores distendem-se ao longo do desenvolvimento.

Sempre que fazemos esta atividade costumamos dizer que é infinita. Abrimos a caixa e de lá vão saindo ferramentas e estratégias, aprendizagens e erros, vários matizes de cinzento. Quando terminam as sessões a caixa que é o nosso projeto não se encerra, fica aberta e está disponível num futuro próximo ou distante.

Sabemos da permanência dos conflitos para além do nosso trabalho, mas isso não nos inibe de continuar a deixar âncoras, que sirvam de referência sempre que façam falta. Esse também é o nosso legado. E não é quantificável.