Agora resta adiar ou simplesmente anular uma agenda que parecia inamovível. Aquilo para que avançávamos maquinalmente emperrou e subitamente somos surpreendidos pelo medo, pelo desconhecido, pela preocupação e pela perda de uma rotina que nos organizava o quotidiano, que, entretanto, se transformou numa espécie de estrangeiro.
Após algumas ameaças mais ou menos consistentes deparamo-nos com uma, que ameaça prolongar-se. Esta perspetiva de que a coisa não se resolva assim tão facilmente pode agravar a nossa reação e abrir espaço à tristeza e à ansiedade, tornando-nos permeáveis a um estado de confusão, de medo ou de revolta. Para combater esta possível reação podemos utilizar diversas estratégias. Ficam aqui apenas alguns exemplos.
O tempo de exposição excessivo à informação pode ser perturbador. A redução deste período pode ajudar a família a não alimentar inquietações desnecessárias. A relação com as redes sociais, assim como a assimilação de fakenews também pode revelar-se contraproducente, pelo que se aconselha uma utilização ponderada das primeiras e uma visão crítica da informação que recebemos. Esta distância permite desfrutar de um modo mais equilibrado dos aspetos positivos que estas redes oferecem, ao mesmo tempo que nos protege de falsos alarmismos, que em nada contribuem para a regulação emocional familiar.
Para aceder a informação credível procure os canais disponibilizados pelas instituições oficiais, como a Direcção-Geral de Saúde ou o Serviço Nacional de Saúde.
Mantenha o contacto com os seus familiares e amigos. Eles são um elo fundamental para ultrapassar o desafio imposto por este surto.
Se a angústia se agigantar não deve hesitar e deverá procurar apoio de um profissional de saúde.
Procure antes adotar um estilo de vida mais saudável. Aproveite para cuidar da alimentação, dê oportunidade ao sono e pratique exercício físico…mente sã em corpo são. Este é um caminho que ajuda a cuidar com mais qualidade das emoções.
Com as crianças, e ponderando as incontornáveis diferenças de desenvolvimento próprias das diferentes faixas etárias, é muito importante mostrar disponibilidade. É um produto não direi raro, mas cada vez mais caro. E nestes dias, semanas ou meses mais intensos pode mesmo tornar-se raro. É compreensível.
As crianças podem reagir de modo diferente, podem estar mais fragilizadas, mostrando maior carência. Podem, por isso, reclamar maior atenção, o que, caso não estejamos devidamente avisados, pode colidir com uma fase de mais fácil irritação da nossa parte. No fundo estamos todos a lidar com uma fonte de stress ainda não experimentada. Mas como somos nós os adultos, temos mesmo de ser nós a reagir como adultos. Somos nós quem tem de dar mais colo, quem tem de tranquilizar, quem tem de explicar, quem tem de desmontar toda esta confusão dando-lhe algum sentido.
A criança pode estar mais triste, isolar-se, pode também irritar-se mais facilmente e sem razão aparente, mostrar-se mais agitada ou provocadora. Sim, ainda mais. Até pode apresentar regressões como voltar a fazer xixi na cama.
Os cuidadores devem mostrar-se compreensivos, atentos, acolhedores, capazes de escutar a criança e de conter as dúvidas que a assolam, ajudando-a a regular emoções que mais parecem um turbilhão e que podem afigurar-se como assustadoras.
É crucial criar espaços lúdicos, onde o brincar prevaleça. É importante que o adulto possa entrar no brincar da criança, mas também é fundamental permitir à criança brincar sozinha. O brincar deve ganhar ao entreter, por isso atenção aos tempos passados aos écrans e muito cuidado com a informação a que as crianças conseguem aceder.
Sempre que possível é importante organizar o dia-a-dia, criando novas rotinas, onde haja espaço para atividades estruturadas (conteúdos escolares) e momentos livres (brincar).
Não devemos fazer do surto um tema tabu. Devemos falar de modo claro e objetivo e procurar responder tranquilamente às questões colocadas pela criança. Também podemos aproveitar a curiosidade da criança para esclarecer a importância de alguns comportamentos como o simples ato de lavar as mãos. Ao medo de adoecer ou de que alguém importante possa adoecer devemos responder com serenidade, elucidando que caso venha a acontecer podemos sempre recorrer ao hospital, onde estarão pessoas de confiança que irão ajudar a solucionar o problema.
Votos de um regresso rápido, muita saúde e tranquilidade.
E não se esqueçam… mantenham a Covid-19 lá fora.